domingo, 10 de fevereiro de 2008

Porquê?

Porque sim, talvez. Um cigarro é uma estupidez necessária, como um trovão, um desatino, a pateada de um cavalo ou a chuva no Verão.
Porque há ocasiões em que não resta mais nada. É o que sobra quando não sobra coisa alguma. É o último pedido, o ritual derradeiro, aquilo que ainda é permitido, por fim, por exemplo, a um homem que vai ser fuzilado. É o prazer absoluto de quem vai morrer daí a pouco, para abreviar.
Porque se torna necessário, e urgente, e indispensável, quando já nada mais faz o mais ínfimo dos sentidos, e também porque idem idem aspas aspas em situação inversa ou no seu contrário. É o refúgio breve do guerreiro exausto, é a trégua unilateral do soldado, é a terra de ninguém individual, pessoal e intransmissível, é um pouco de ordem no caos do quotidiano, é um excesso delicioso na bovina passividade da urbe frenética, esfíngica, horrorosa.
Porque fumo? Fumo, porque é bom. Porque gosto. Porque é uma companhia sólida. Porque nunca falha.
Ou seja: porque sim, sem dúvida.

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