quarta-feira, 30 de abril de 2008

Suicide-se com moderação, s.f.f.

----- Original Message -----
Sent: Wednesday, April 30, 2008 11:44 AM
Subject: fumador.cedilha.net

Agradeço ao  João Graça a ideia dum sítio onde quem gosta de fumar pode encontrar ajuda na escolha dos cafés e restaurantes “civilizados “.    Todos podem  e devem conviver, sem incomodar  ou  coartar a liberdade e o prazer de ninguém.

A lista reunida desses locais já me  foi  muito útil ,  em  Lisboa e  no  Porto.

Quero também contribuir com  a indicação de mais três  restaurantes  :

“ Chá da esperança “  na rua da Esperança   e   “ Frade dos Mares “  na Av. D. Carlos I   (largo do chafariz  --Santos )

Há ainda  o restaurante  “Yasmin “  no  jardim ao lado da Mercado da Ribeira.

Saudações a todos os que têm  colaborado


p.s.—parece-me recomendável  «fumar com moderação »



Depois de pessoalmente ter respondido a tão amável e colaborante missiva, cumpre esclarecer alguma coisinha sobre aquele derradeiro e quiçá misterioso post scriptum.

Aliás, devo agradecer à nossa companheira de fumaradas a oportunidade que aquela sugestão me proporciona, já que desde há muito tempo pretendia falar aqui do assunto.

Como todos sabemos, qualquer anúncio a bebidas alcoólicas tem aposta a generosa e da ordem frasezinha "beba com moderação", ou algo equivalentemente patético; já nos maços de tabaco (não nos anúncios, porque a publicidade ao dito é expressamente proibida) a coisa é logo a matar, por assim dizer, em sentido literal; dizem-nos, nossos incógnitos e enigmáticos benfeitores, que "Fumar Mata", por exemplo. No tabaco é logo, pimba, "vais morrer, cão" (ou coisa do género), mas lá na cervejinha, no "uísquezinho" ou na pinga em geral, bem mais avisados e maneirinhos são os letreiros, os apelos à contenção, ou lá o que raio é aquilo. Aliás, no que diz respeito à gasolina de avião para emborcar (vulgo, bebidas alcoólicas), esses "apelos" costumam ser precedidos por uma introdução ainda mais parva: "seja responsável".

Eu cá acho que, nestes assuntos de saúde pública, não deve haver meias palavras ou coisinhas chochas. Se querem apelar à consciência dos bebedores, então deveriam entrar também a matar, utilizando as tácticas de guerra psicológica do "antitabagismo" fundamentalista. Assim como escrevem nos maços que "Fumar Mata", deveriam escarrapachar nas "botellas" fosse do que fosse algo como "Beber Mais Mata Mais Depressa" ou, outra sugestão super-criativa, "Vais Beber, Vais-te Foder", por exemplo. Como equivalente ao "Fumar pode provocar morte lenta e dolorosa", porque não grafar em garrafas e copos "Beber Dá Cirroses Muito Jeitosas" ou "O Álcool é Bera com'á Ferrugem"?

Já agora, em vez de se recomendar ao bebedor que "beba com moderação", que tal completar a frase convenientemente? Ficaria assim: "beba com moderação, sua ganda besta" ou, que sei eu, em vez de "ganda besta", punha-se "seu animal", ou "ó caramelo", ou ainda "se não, leva tau-tau".

A escola fundamentalista, em especial na disciplina dedicada à saúde alheia (vulgo, pública), não enxergando mais do que meio palmo adiante do próprio umbigo, recusa liminarmente qualquer espécie de senso, seja ele bom ou apenas comum. Estes letreiros, quanto ao fumo ou quanto ao álcool, surtem tanto efeito como tentar convencer uma criança de que os bombons fazem mal "à barriga"; para começar, criança alguma sabe ao certo o que vem a ser isso da "barriga" e, por conseguinte e muito acertadamente, a dita criança sentir-se-á decerto enganada pelo adulto que a tenta convencer de algo totalmente absurdo, porque inexistente, vago, indefinido.

Alguém presumirá, porventura, que algum daqueles recadinhos pseudo-altruístas colheu o mais ínfimo dos efeitos? Que alguma vez algum fumador deixou de fumar o seu cigarrinho ou uma pessoal normal de beber o seu "uísquezinho"? Como? Hem? Diga? Por causa daquela merda estar ali escrita? Nunca!

Muito provavelmente, a servirem aqueles dizeres para alguma coisa, será com certeza pela inversa, isto é, acicatando ainda mais o fumador para acender mais um cigarro ou levando qualquer pessoa a encher de novo o copo. Quanto mais não seja, pela sensação típica de "que se lixe, assim com'assim, é p'rá desgraça".

Não confundamos, no entanto, beber com fumar; mantenhamos as coisas devidamente em separado, porque são óbvia e completamente diferentes. Nenhum fumador se intoxica até cair para o lado ou sequer até ficar tonto, perder o equilíbrio, desatar a dizer asneiras e chatear toda gente; fumar não implica nem pressupõe o risco de vir a bater na mulher (ou no marido) apenas por desfastio ou de armar barracadas e desacatos diversos em tudo quanto é sítio. Por mais que os maníacos da saúde o tentem fazer crer, não existe a figura típica do "fumador da aldeia"; é uma impossibilidade técnica que alguém passe a viver na rua ou ande a arrumar carros por causa do seu vício tabágico. O alcoolismo é uma patologia com graves reflexos pessoais, familiares e sociais, fumar é um hábito de cariz social potencialmente perigoso para a saúde do indivíduo. Por outro lado, o risco de que o hábito de beber álcool se transforme em alcoolismo não pode sequer ser comparado a que o hábito de fumar se transforme em tabagismo - que não é designação de uma doença, mas de uma temática (ou problemática).

Um fumador não anda (não deve andar) por aí a arrebanhar fumadores, a convidar outros para "só mais um, p'ró caminho". Não alicia ninguém para fumar, muito menos menores; pelo contrário, faz o que pode (deve fazer) para que os jovens não comecem a dar umas baforadas e ajuda (deve ajudar) quem pretende deixar o tabaco. O fumador não incomoda (não deve incomodar) ninguém com o seu fumo e não tenta sequer (não deve tentar) justificar aquilo que sabe perfeitamente não ser justificável.

Porém, o fumador (consciente) também não tem nada que dizer aos outros aquilo que é melhor para eles ou aquilo que mais lhes convém. Esse tipo de moralidade podre, essa tendência para impingir balelas ao próximo, a necessidade compulsiva de babar palermices paternalistas para cima de qualquer desconhecido, isso sim, como vemos e sabemos, é típico de bêbedos inveterados.

Os mesmos que se entretêm, entre dois soluços avinhados, a inventar as tais frases lapidares de apelo à "responsabilidade e à "moderação". Consciência pesada, é o que é.

sábado, 26 de abril de 2008

História do fumo IV - "Bons amigos, bons conselhos"

click para ampliar a imagem

Come bem, dorme melhor e anda sempre alegre e feliz, porque fuma entre dois charutos as cigarrilhas aromáticas e medicinaes, extra elegantes.
Belsaude
Com sêlo VITERI

Usadas pelas senhoras elegantes porque perfumam o hálito e evitam a cárie dentaria. Usadas pelos cantôres, prégadôres, actôres e oradôres, porque fortalecem as cordas vocaes e aclaram a voz.

COMBATE A ACÇÃO NOCIVA DA NICOTINA.
Fazem-se remessas c/ reembolso.

Pedidos ao
Deposito central: Vicente Ribeiro e C.ª
Sucessor Jão Vicente Ribeiro Júnior
84, Rua dos Fanqueiros, 1.º, Dt.º



Anúncio no Almanach Bertrand. 19.º Anno, Fernandes Costa (270, Estrada de Bemfica - Lisboa), 1918
(Brochado, $60; Cartonado, $75)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Confirmação e Pontuacão - 6


Salão Preto e Prata
Casino Estoril
Praça José Teodoro dos Santos
2765-237 Estoril
Telefone: 214 667 700
C.E. - Salão Preto e Prata


snap map

  • Foi aqui o célebre "local do crime", em que foi apanhado a fumar um director qualquer da ASAE, na noite de passagem-de-ano 2007/2008. Só por esse facto por assim dizer histórico, já valeria a pena ir lá espreitar.
  • Deve ser caso único no país: a sala está dividida por dois simples letreiros na parede: 2/3 para não fumadores, 1/3 para fumadores.
  • Isto é um jantar com espectáculo dentro, portanto a coisa depende muito mais deste (que varia) do que daquele (que deve ser sempre mais ou menos a mesma coisa).
  • Num jantar de 3ª Feira, deve ser normal que exista um rácio de quase um empregado para cada 4 comensais, o que, pessoalmente, não me chateia nada.
  • Considerando que, desta vez, o "menu" foi do género "promoção" (para os dias de menor movimento, é isso que lhe chamam), bem, 45 € por cabeça não é nada de mais.
  • Os 18 contitos, a dividir por dois, compreendem pãezinhos sortidos, manteiga (em pacotinhos de plástico!), creme de camarão (bom, 4 estrelas), pato assado com batata folhada (!) e legumes (esqueçam os legumes e a batata, o pato leva 3 estrelitas), meia garrinha de branco (do piorio) e outra meia de tinto (Periquita, por conseguinte aceitável), mais doce gelado de 4 chocolates (muito bom); café ou chá servem para liquidar a conta. O resto é pago à parte. E esse resto, para molhar o espectáculo, foi um maravilhoso Quinta de Pancas (22 €, vale).

Como se avalia uma coisa destas? Pelo lado dos comes e bebes ou pelo lado das bailarinas, salvo seja? O "show" actualmente em exibição chama-se «Four: Espírito dos Elementos", mas também se poderia designar por "Five: Pão e Circo", ou chamar-se outra coisa qualquer, que vinha a dar no mesmo. É um excelente número, ou sucessão de números, com um ritmo e uma encenação absolutamente perfeitos.

Só o espectáculo de «Michael McPherson, ex-performer do Cirque du Soleil», já valeria perfeitamente o preço do bilhete. Por conseguinte, não refilemos, vamos considerar que o jantar para dois foi inteiramente à borla ou, vá lá, meio por meio.

Isto porque, se nos ativermos a uma crítica puramente gastronómica, por assim dizer, bem, já traguei pior mas o Casino bem poderia ter caprichado mais um pouquinho no mestre Cuca. Não há lá taças para meter a bendita da manteiguinha? E a pinta de "comida de avião" daquela espécie de "catering", não daria para ao menos disfarçar? E, já agora, aquela honestíssima ave de arribação, bem marinada e melhor assada, não mereceria uma guarnição mais condizente, como, por exemplo, umas batatas novas também assadas e um esparregado decorativo e escorregadio? Para que raio servem aqueles vegetais desenxabidos, tão apetitosos ao paladar como um centro de flores e tão suculentos como uma paisagem siberiana?

Enfim, ponderados os prós e os contras, e atendendo à qualidade do ambiente (para já não falar do idem quanto a alguns pormenores anatómicos do chamado corpo de baile), vão três estrelas para a restauração (e cinco para os tais pormenores, mas isso não é para aqui chamado).

Uma nota (ainda mais) pessoal, sobre fumo no local: nenhum. Os tipos esmeraram-se nas maquinetas de extracção. É um prazer enorme; fumei que nem uma besta, ia-se-me acabando o tabaco, e nem um olharzinho de esguelha, nem uma bocazita foleira, nada de nada, as volutas desapareciam pelo tecto acima e, em troca, desciam belas mulheres pelo tecto abaixo. Um pedaço de céu, em suma, é o que vos afianço com cagança.



Esta apreciação, bem como a cotacão atribuída, resultam de uma única visita e constituem a expressão de uma simples opinião, devendo por conseguinte ser consideradas como isso mesmo, opinião num artigo de opinião.

Alda

Era magra, nervosa, pequenina,
Um nadinha de gente. Assim custava,
E com razão, a perceber que estava
Génio tão mau em cousa tão franzina.

Bater sabia o pé, desde menina,
E a todo o que a servia, escravizava
Por modo tal, que o próprio a quem amava
Em breve maldizia a própria sina.

Tinha sempre de andar no estreito rego,
Que a sua mão lhe impunha com pavor,
De cabeça no chão, como um borrego;

Não dando ao desgraçado adorador
Um momento de paz, nem de sossego!...
Pois era a isto que chamava amor!


Fernandes Costa, «O Eterno Feminino»
Almanaque Bertrand, 1963

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O fumador, essa espécie exótica

«O que não aconteceu»

«Posso dizer que, no final, fiquei surpreendido por nunca ter sido multado. As eventuais consequências legais da minha "aventura" tinham sido, aliás, uma das preocupações iniciais quando preparei o trabalho, o que me levou a consultar o advogado da empresa e a garantir que esta se responsabilizava pelos montantes das multas. É que não são pêra-doce - ser "aliviado" em 500 ou 1000 euros por um agente da autoridade não é difícil. Tive sorte? Se calhar.»


Isto é o parágrafo final de um artigo publicado ontem no Diário de Notícias, numa "secção" regular daquele jornal que se designa "Na Pele de..."

Desta vez, tocou ao jornalista fazer-se passar por fumador compulsivo (ou distraído, vem a dar no mesmo). Vai daí, o homem fez-se à estrada, salvo seja, com fotógrafo a tiracolo, e lá foi à luta, a ver se alguém o chateava por fumar em locais interditos. Experimentou o Metro, e nada, acendeu um cigarro no centro comercial das Amoreiras, e népia, andou em dois táxis e encheu-os de fumo, com o beneplácito dos motoristas, experimentou uma Loja do Cidadão e nem aí a coisa deu para o torto. Uma chatice, pelos vistos. Parece que, afinal, depois de tanta treta, mais de quatro meses após a lei 37/2007 ter sido parida, pouca gente normal liga ao assunto.

Mas será mesmo assim? Não terá isto sido mera coincidência ou, quem sabe, este jornalista ser mesmo um tipo cheio sorte? Se calhar, é cá um palpite que eu tenho, a coisa pode correr bastante mal, se alguém quiser arriscar brincar às distracções. Digo-o por experiência própria, por ouvir dizer e também pelo que se vai lendo, aqui e ali. Veja-se este caso, saído hoje no mesmo jornal, na "secção" de cartas ao Director.




«Tolerância»
«Apesar de não ser fumador, não concordo com a cruzada higiénica contra os fumadores em Portugal. Os não fumadores não têm de querer obrigar toda a gente a deixar de fumar. Mas os fumadores também não têm razão quando defendem que, nos locais públicos onde seja permitido fumar, não devem ser impostas quaisquer regras relativamente à ventilação do ar, segundo o princípio "só lá vai quem quer".
Os espaços públicos devem ser abertos a toda a gente e, como tal, devem dar garantias a qualquer pessoa de aí poder estar sem ser incomodada. Há locais onde o fumo é tanto que uma pessoa não consegue sequer abrir os olhos, para já não falar no fedor pestilento que deixa nas roupas. Ora, isto é inadmissível. Tal como se exige aos bares, para poderem passar música ou cozinhar, que tenham condições para tal, também lhes devem ser exigidas determinadas condições para que possam permitir que aí se fume


Se porventura alguém me perguntasse - coisa de que felizmente estou safo - algo como "mas o que raio tem isto de mais?", e mesmo sabendo que às vezes nem com desenhos a coisa vai lá, sempre gostaria de esclarecer que este documento é um verdadeiro panfleto de fundamentalismo. O fulano que escreveu isto, e aqui sou obrigado a omitir-lhe o nome porque o que me apetece é chamar-lhe nomes, representa e ilustra a pior espécie de pide sanitário. Note-se como começa por dar uma de "amplas liberdades", assim como se fosse muito tolerante, e tal, mas depressa lhe foge o discurso para a cacetada (como caceteiro que é, confere); na frase "Os não fumadores não têm de querer obrigar toda a gente a deixar de fumar" está condensado todo o programa destas figurinhas inquisitoriais. Este gajo por certo se julgará muito civilizado e urbano, por assim dizer; mas deixem-no à solta, a ele e aos milhares como ele, dêem-lhes trela, forneçam-lhes parcimoniosamente os fósforos, e logo vereis essa gente a queimar em auto-de-fé todos os hereges fumadores; e vereis também como não se ralarão então eles absolutamente nada com a fumarada que assim fazem, que a sua missão é sagrada e que são divinos os seus desígnios, já que é para bem dos próprios supliciados.

Parece exagero, assim de repente, pois não parece?

Bem, pronto, lá vão os desenhos, então. O que este fulano diz - e que demonstra, entre outras coisas, que o tal jornalista teve uma sorte de cabrão, como soe dizer-se - contém a essência programática de qualquer espécie de racismo ou xenofobia. O que ele diz, trocado em miúdos, equivale a coisas tão comuns como as seguintes frases lapidares:

_ Eu cá não sou racista, só não gramo é os pretos.
_ Não tenho nada contra os ciganos, mas acho que deviam ir todos lá pr'á terra deles.
_ Para mim, somos todos iguais, tirando os cabrões dos velhos e a juventude, esses drógados.
_ O homem e a mulher são iguais em direitos, mas cada qual no seu lugar. E o lugar da mulher é em casa, pois.
_ Cá p'ra mim, esse tipo tem ar de vigarista, foda-se, basta olhar-lhe p'ró focinho.
_ Considero-me um democrata, mas realmente ele há coisas que não se podem admitir em política.
_ Os ricos que paguem a crise.
_ Tu és o carro que tens, portanto, com essa porcaria não passas de um bardamerdas.
_ As mulheres são todas umas putas, menos a minha mãe e a santa que tenho lá em casa.
_ Os homens são todos uma cambada de machistas.
_ Este mundo é dos espertos.
_ Anda meio mundo a enganar o outro meio.

Portugal está tão cheio de frases lapidares como a abarrotar de imbecis que as proferem. O antitabagismo é a mais moderna válvula de escape para a boçalidade das massas e serve na perfeição como álibi para que as elites nada façam de realmente importante.

Troquem-se os factores nas fórmulas ou nos lugares-comuns, sejam aquelas verbalizadas ou estes consuetudinários, e os resultados permanecerão imutáveis: troglodita é troglodita, aqui ou na China (outro chavão), e pretexto é pretexto, por mais rebuscada que seja a argumentação e por mais subtil que seja a falácia.

Se estas coisas porventura não fossem (exactamente) assim, o leitor "indignado" com o café do fumador indignar-se-ia com o preço do café, o jornalista ter-se-ia posto "na pele de" um tetraplégico, por exemplo, e não na de um simples fumador e, por fim, sejamos coerentes, eu próprio devia estar neste momento produzindo algo de útil, em vez de estar para aqui pregando aos peixes. Mas enfim, que Deus me perdoe, isto foi aquele sacana de carassius auratus que está ali há um ror de tempo, às voltas, às voltas, às voltas, a olhar para mim com ar de dúvida.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Deus me dê paciência

Pois, esse tipo de respostas e observações trogloditas é cada vez mais comum. Informações erradas para o mapa, também. O mundo está cheio de imbecis, como se vê.
 
Agradeço a informação. Irei investigar o assunto, na medida das possibilidades e, a ser o caso, apagarei o dito restaurante laranja dos sítios decentes.
Cumprimentos.
 
JPG
----- Original Message -----
Sent: Friday, April 18, 2008 6:21 PM
Subject: Mapa


Quero deixar aqui que o ORANGE na rua São Pedro de Alcantara 21 que está referenciado como sendo de fumadores, é de não fumadores e que acha muito bem esta lei e que FUMAR É NA RUA tal como me foi dito.

Paulo Martins

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Oh, my sweet Lord!


http://www.youtube.com/watch?v=9W0Nzddndbk

«Este show foi uma homenagem ao George Harrison, dois anos após a sua morte. No violão, Eric Clapton, no outro, o filho de Harrison, no piano Paul McCartney, na 1ª bateria Ringo Star, na segunda Phill Collins, na guitarra Tom Petty, no órgão e vocal Billy Preston.»
Keikas (YouTube)


Um dos raríssimos casos em que a cópia é (ainda) melhor do que o original.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Confirmação e Pontuacão - 5


Kaffa - Coffee Zone
Av. das Nações Unidas, 19
1600-535 Lisboa
Telefone: 217 144 272
http://www.kaffa-coffeezone.com/



snap map

  • Bem localizado numa zona residencial, tendo o Continente de Telheiras como vizinho.
  • As duas salas são amplas, a de fumadores com 70m2 tem 40 lugares sentados e boa extracção de fumo, e a de não fumadores, separada da anterior por 2m de livre circulação, tem 130m2 e 60 lugares sentados.
  • Equipa bem organizada e simpática.
  • Razoável variedade de cafés e chás.
  • As tostas primam por não ser em pão de forma e pela qualidade e variedade (a partir de 2,75€).
  • Para além dos snacks e das saladas, dispõe de um menu ao almoço por 6,50€ que varia diariamente (prato, refrigerante e café), do qual escolhi a espetada de peru com tâmaras, que me agradou razoavelmente.
  • Excelentes caipirinhas (4€), quando preparadas pelos empregados brasileiros que, espante-se, são em larga minoria.

É um espaço misto de café e bar que funciona todos os dias das 09:30h às 02:00h (entra-se pela zona de fumadores, apesar de existir uma entrada na outra zona), em que a música ambiente flutua com a hora e com o tipo de clientes, pelo que percebi das distintas vezes em que já lá fui.

Durante a tarde, é comum encontrar estudantes que usufruem da Wireless e diversos clientes dedicados à leitura. Ao cair da noite, o café "transforma-se" em bar, em que a luz dos candeeiros desce e acendem-se tea light candles, subindo o ritmo e volume da música (e também da conversa dos clientes, bah...) a par da afluência de clientes, que é imensa em qualquer dia da semana - talvez devido à raridade de espaços com áreas para fumadores na zona. A partir das 21h, é da praxe esperar uns 20 minutos por mesa, o que acaba por ser saturante e incomodativo, pois a "zona de espera" é ladeada pela entrada e pela saída de copa em que o "desvia para aqui e ali" é uma constante.

Acaba por ser um espaço que se evidencia pela metamorfose que tem ao longo do dia e que peca pelo tempo e falta de zona de espera, pelo que fica nas 2, quase 3 estrelas.



Esta crítica foi realizada pela vizinha Curiosa, que atribuiu a cotacão (dois furos acima de cão) ao restaurante Kaffa.

Esta apreciação, bem como a cotacão atribuída, resultam de uma única visita e constituem a expressão de uma simples opinião, devendo por conseguinte ser consideradas como isso mesmo, opinião num artigo de opinião.

Confirmação e Pontuacão - 4


Restaurante Luizinho
Rua do Neto, 6
2675 Odivelas
Telefone: 219 310 079
http://luizinho.restaunet.pt/APRESENTA.asp



snap map

  • A sala de fumadores, das três que o restaurante possui, é a dos fundos, onde o extractor é inexistente e o aparelho de ar condicionado é apenas um enfeite no tecto.
  • Nesta sala diminuta, com capacidade para 30 pessoas, a ventilação é feita por umas micro-janelas junto ao tecto, que por sinal estavam fechadas.
  • Jantar de grupo com menu por 13,50€: grelhada mista + sumos, água e sangria + café + bolo de aniversário + espumante.
  • Serviço lento e de má qualidade: o paté de entrada parecia sopa de peixe para bebés; as carnes foram servidas às prestações e os acompanhamentos começaram a chegar 10 minutos depois da grelhada servida, contrastando o frio arroz branco sem sal com o excesso do mesmo na carne; a desonrosa sangria só tinha a denominação.

Numa mesa de 20 pessoas, diversos convivas tecem elogios a refeições anteriores, apesar de este ter sido o primeiro jantar com ementa de grupo. Da minha parte, não encontro elogios a tecer. Foi a primeira, e de certo que terá sido a única vez que fui ao afamado Luizinho.

O tempo de espera entre os grelhados e os acompanhamentos foi surreal. As travessas eram colocadas sem nexo na mesa, e os convivas que as passassem entre si (foi esta a resposta que recebi do empregado que nos estava a servir, ao perguntar pela salada), e já bebi sangria engarrafada bem melhor do que aquela água de lavar copos. Escapou as batatas fritas, por não serem de pacote nem pré-cozinhadas, e o bolo de aniversário.

Poderão dizer-me: por 13,50€, não se pode esperar muito. Pois eu espero, ou não tivesse já comido muito bem em tascas por 10€, mas isso foi antes do anti-tabagismo.

Não tivesse sido o aniversário de um amigo e o humor feito em torno do péssimo serviço prestado, como também os grandes ossos das entremeadas para o cão roer, seria um "abaixo de cão".



Esta crítica foi realizada pela vizinha Curiosa, que atribuiu a cotacão (de cão) ao restaurante Luizinho.

Esta apreciação, bem como a cotacão atribuída, resultam de uma única visita e constituem a expressão de uma simples opinião, devendo por conseguinte ser consideradas como isso mesmo, opinião num artigo de opinião.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

'Tá bem, abelha

«Cell phone mobile radiation could heat the side of the head or potentially thermoelectrically interact with the brain to convert the user's head into an antenna.
Cell phones were the focus of a 15-month study by an award-winning cancer expert who says the handsets are more dangerous than smoking cigarettes».

By: Kristin Turner
Apr 1, 2008, 11:10 AM EDT


"A radiação dos telemóveis pode induzir aquecimento na cabeça ou interagir termoelectricamente com o cérebro, convertendo a cabeça da pessoa numa antena.
Os telefones móveis foram exaustivamente analisados num estudo realizado ao longo de quinze meses, da autoria de um perito em oncologia vencedor de diversos prémios, que diz serem estes aparelhos mais perigosos do que o tabaco.
"

Pois é, já tinha havido por aí uns zum-zuns mas, como não existe ainda uma indústria com interesses no ramo (medicinas alternativas, ginásios, medicamentos, etc.), para já a coisa fica assim. Até ver. As invenções mirabolantes e a perseguição fundamentalista ao telemóvel apenas surgirão quando isso convier a uma nova e florescente máfia de industriais; e só nessa altura, muito provavelmente quando se esgotar o filão do anti-tabagismo, surgirão os movimentos terroristas - tradicionalmente travestidos de ecologistas e de amiguinhos da saúde - que se encarregarão de, mais uma vez, espalhar militantemente a "boa nova": afinal, o mal, o verdadeiro Mal, reside no maldito telelé.

Esse futuramente proscrito aparelhinho reúne todas as condições para substituir o cigarrito como alvo a abater: foi, desde sempre, considerado como factor de prestígio e de promoção social; é altamente viciante e provoca dependência psíquica e, de certa forma, também física; os agarrados sentem prazer no seu manuseamento, chegando a utilizá-lo por tudo e por nada, mesmo quando não têm qualquer necessidade para isso; alguns dos mais dependentes chegam a sentir verdadeiro prazer físico, seja quando compram mais um, seja simplesmente quando isso os faz sentir mais próximos dos outros, menos sós, como pertencendo a uma comunidade; no fundo, aquilo é um amigo fiel, um companheiro divertido, algo que ajuda qualquer pessoa a passar menos mal pelo inferno do quotidiano.

Exactamente como o tabaco, está bem de ver. E as semelhanças - o que se pode dizer de uma coisa, pode dizer-se também da outra - não ficam por aqui: ambos são vícios extremamente caros (logo, muitíssimo apetecíveis para as máfias industriais) e ambos contêm um carácter de individualidade, independência e liberdade que não convêm nada, mas mesmo nada, ao statu quo politicamente correcto.

A lógica da dependência é rigorosamente a mesma, num caso e noutro. Adivinhar o futuro, assim, é tão fácil que até chateia.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O urso Bibinho da Silba


http://www.youtube.com/watch?v=5UJvOR0udqs

Uma animação 3D dobrada por um (berdadeiro) artista do Nuorte, carago. E há lá mais para ber, afianço-bos: o mesmo ursinho Bibo a dar uma de Bruce Lee e o Sapo Cocas no conhecidíssimo anúncio do BMW Compact.

De chorar a rir. Baleu.

Via (digo, bia) Q208

Perdão?

«02/04/2008 - 18h52
Cientistas descobrem gene responsável pelo câncer de pulmão
da Folha Online
da France Presse, em Paris

O risco de uma pessoa ter câncer no pulmão dependeria de variações genéticas individuais, de acordo com pesquisas publicadas nesta quarta-feira pelas revistas científicas "Nature" e pela "Nature Genetics".

A descoberta, feita por três diferentes equipes de pesquisadores, aponta variações associadas ao risco de câncer no pulmão situadas no cromossomo 15, apesar de os autores divergirem sobre se esta é ou não uma relação direta com a dependência à nicotina.

"O fumo é responsável por 9 em cada 10 casos de câncer no pulmão, mas essas pesquisas mostram que certos fumantes têm ainda mais risco de adquirir esse tipo de doença devido ao seu perfil genético", afirma o cientista britânico Lesley Walker.

Segundo os estudos, um fumante que possui a variação genética indicada tem 80% mais chances de desenvolver câncer do que um fumante que não apresenta tais variações.

As pesquisas ainda apontam que o risco de câncer no pulmão é quase duas vezes superior nas pessoas que possuem as variações genéticas com relação àquelas que não as possuem.

"O risco atribuído a este grupo de indicadores representa 15% dos casos de câncer de pulmão", afirma Mark Lathrop, diretor científico da fundação Jean Dausset e diretor do Centro Nacional de Genotipagem da França.

Nicotina

A região do cromossomo 15 identificada por estes estudos contém genes de receptores de nicotina que poderiam desempenhar um importante papel na formação do câncer, favorecendo a fixação da nicotina sobre as células, assim como de outros produtos tóxicos.

Segundo outra hipótese apresentada, é a predisposição à dependência de tabaco que favoreceria o consumo e por conseguinte o risco de câncer.

"Esses resultados poderão abrir novos caminhos para desenvolver e melhorar os tratamentos", diz Paul Brennan, do CIRC (Centro Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, na sigla em inglês), da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Os pesquisadores estudaram os genes de mais de 35 mil pessoas na Europa, Canadá e nos Estados Unidos. A pesquisa envolveu apenas pessoas descendentes de europeus. Segundo os cientistas, novos estudos serão realizados envolvendo pessoas de origens africanas e asiáticas.
»

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Portugal patético, 2008

E agora, para mais, ficara lá um homenzinho a fazer música clássica…
- É o meu amigo Cruges!
- Ah!, é seu amigo? Pois olhe, devia ter-lhe dito que tocasse antes o «Pirolito»!
- Vossa Excelência aflige-me com esse desdém pelos grandes mestres… Não quer que a vá acompanhar à carruagem? Paciência… Muito boa noite, Sr.ª D. Joana!… Um servo seu, senhora baronesa! E Deus lhe tire a sua dor de cabeça!
Ela voltou-se ainda no degrau, para o ameaçar risonhamente com o leque:
- Não seja impostor! O sr. Ega não acredita em Deus.
- Perdão… Que o Diabo lhe tire a sua dor de cabeça, senhora baronesa!
O velho democrata desaparecera, discretamente. E, da antessala, Ega avistou logo ao fundo, no tablado, sobre um mocho muito baixo que lhe fazia roçar pelo chão as longas abas da casaca - o Cruges, com o nariz bicudo contra o caderno da Sonata, martelando sabiamente o teclado. Foi então subindo em pontas de pés pela coxia tapetada de vermelho, agora desafogada, quase vazia; um ar mais fresco circulava; as senhoras, cansadas, bocejavam por detrás dos leques.
Parou junto de D. Maria da Cunha, apertada na mesma fila com todo um rancho íntimo, a marquesa de Soutal, as duas Pedrosos, a Teresa Darque. E a boa D. Maria tocou-lhe logo no braço para saber quem era aquele músico de cabeleira.
- Um amigo meu, murmurou Ega. Um grande maestro, o Cruges.
O Cruges… O nome correu entre as senhoras, que o não conheciam. E era composição dele, aquela coisa triste?
- É de Beethoven, sr.ª D. Maria da Cunha, a "Sonata Patética".
Uma das Pedrosos não percebera bem o nome da Sonata. E a marquesa de Soutal, muito séria, muito bela, cheirando devagar um frasquinho de sais, disse que era a "Sonata Pateta".
Por toda a bancada foi um rastilho de risos sufocados. A Sonata Pateta! Aquilo parecia divino!
Da extremidade o Vargas gordo, o das corridas, estendeu a face enorme, imberbe e cor de papoula:
- Muito bem, senhora marquesa, muito catita!

Eça de Queiroz, Os Maias


terça-feira, 1 de abril de 2008

O meu amigo Afonso

O meu amigo Afonso é muito simpático, elegante, altivo sem ser arrogante. E esperto, principalmente esperto. Ah, claro, pois claro, faltou dizer, é lindíssimo: de uma beleza suave e mansa, tão mansa quanto o seu feitio e tão suave quanto a sua bonomia pachorrenta.

Sempre o achei calmo e bem disposto, e mesmo agora, ainda há pouco, o vi a rilhar placidamente um biscoito, sentado na relva, entre malmequeres.

A notícia caiu-me em cima à traição, como uma paulada: foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão. Deram-lhe quinze dias de vida, no máximo.

Lá em casa ninguém fuma, nunca ninguém fumou. E também, que diabo, o Afonso é um atleta, sempre foi, é capaz de andar quilómetros e quilómetros sem um queixume, sempre sorridente e satisfeito. Não é muito amigo de correr, até porque tem de levar consigo aquele enorme corpanzil, a reboque, mas não se furta a umas corridinhas rijas atrás de uma bola, por exemplo. Ninguém se conforma. Ninguém acredita. O velho está destruído, não come nem dorme, fala sozinho, torce as mãos num desespero, num desespero.

Hoje é o décimo sexto dia. Haja esperança.

O Afonso tem seis anos. É um Berner Sennenhund.

Fumar bloqueia os neurónios e provoca ataques de estupidez e imbecilidade

«Esta é uma medida que visa recuperar os clientes fumadores, impedidos de fumar no interior dos cafés pela nova lei do Tabaco.

"Este projecto surgiu no âmbito da entrada em vigor da nova lei do tabaco, recolhemos algumas sugestões alternativas para espaços exteriores e vamos lançar duas estruturas de esplanadas: uma da Sagres, dedicada especialmente ao Euro2008, e outra estruturada para todo o ano, mas ambas com um ambiente acolhedor e mobiliário mais confortável", explicou à Lusa Nuno Pinto de Magalhães, da Sociedade Central de Cervejas (SCC), uma das empresas envolvidas.

Em parceria com a Galp Energia e a Sport TV, a Associação da Restauração e Similares de Portugal (ARESP) e a Central de Cervejas vão apostar em novos espaços com aquecedores exteriores, pára-ventos, ecrãs para transmitir futebol e outros programas, bem como em cadeiras mais ergonómicas e cómodas, tudo rodeado por um ambiente acolhedor.

"O principal objectivo é devolver aos fumadores um espaço confortável onde possam estar e onde todos possam conviver novamente", sublinhou Pinto de Magalhães.

A nível nacional estão já previstas cerca de 50 esplanadas Sagres e dez estruturas a longo prazo, que irão ter, segundo o assessor, toda a "comodidade e infra-estruturas necessárias".

"Estamos a desenvolver parcerias com algumas Câmaras Municipais que já se mostraram interessadas em juntar-se ao projecto e os estabelecimentos podem, em conjunto com as autarquias, adquirir este tipo de estruturas", explicou o assessor.

Estas esplanadas são apresentadas na Horexpo - Salão Internacional de Hotelaria, Restauração e Vending, em Lisboa, e Pinto de Magalhães acredita que o número de pedidos pode ainda aumentar.

Com a nova lei do tabaco, que entrou em vigor a 1 de Janeiro, é proibido fumar nos serviços públicos e nos locais de atendimento directo ao público, nos locais de trabalho, unidades de saúde, lares de idosos, estabelecimentos de ensino, museus e centros culturais, centros comerciais, estabelecimentos hoteleiros, aeroportos e nos meios de transporte.

A lei prevê contudo algumas excepções, permitindo a criação de espaços próprios para fumadores desde que cumpram os seguintes requisitos: as áreas estarem devidamente sinalizadas e separadas fisicamente das restantes instalações ou disporem de dispositivos de ventilação adequados e a existência de um sistema de extracção de fumo directamente para o exterior.

As multas para quem puxar de um cigarro em espaços fechados e fora das zonas previstas para fumadores oscilam entre os 50 e os 750 euros e entre os 50 e os mil euros para os proprietários de estabelecimentos privados e órgãos directivos dos serviços da Administração Pública que não cumpram a legislação.»

Agência Lusa, 31.03.08.


Será necessário mais alguma coisa, depois disto? Será realmente incomensurável a estupidez dos fumadores? Será possível que o tabaco iniba totalmente o raciocínio?

Bom, para quem fuma uma média de 3 maços por dia, como é o meu caso, não vou jurar que não tenha ficado totalmente estúpido, visto que me intoxico sistematicamente há mais de trinta e cinco anos, mas ao menos esta acho que entendi: com que então, desde que existam lonas em vez de paredes, já não há problema nenhum, não é isso? Se o "espaço" não for totalmente fechado, se tiver umas frinchinhas por onde entre o ar, se houver painéis em acrílico ou plástico em vez de tijolos e argamassa, já não é um "espaço público", não é assim? Desde que o local seja amovível, em vez de em alvenaria, então tudo jóia, a lei já não se aplica! Como se não fosse possível "mover" uma casa, à força de camartelo, e pô-la no chão em menos de um fósforo! Como se num "estabelecimento convencional" não existissem portas e janelas e frinchas e as mesmíssimas correntes de ar! Como se, enfim, fossemos todos, fumadores e não fumadores, uma cambada de mentecaptos, incapazes de entender a mais evidente, ridícula, nojenta das vigarices!

O proprietário de um simples café de bairro não pode optar pelo letreiro azul, tal é a carga de despesas e de chatices em que se iria meter, mas se a coisa for patrocinada pela Sociedade Central de Cervejas, e se a dita Sociedade Central de Cervejas mandar à merda o Governo, a ASAE, a DGS, a legislação antitabagista, os legisladores que semelhante cagada produziram e ainda o mais elementar senso comum, então sim, já pode, não há crise. Eis, em linhas gerais e no essencial, o que esta notícia veicula. A pretexto do Campeonato da Europa de Futebol e das frinchas que existem entre os panos das tendas, escorados em tão belos quanto cretinos álibis, os felizes empresários da indústria cervejeira - com o beneplácito e a cobertura das entidades governamentais - preparam-se agora para impingir mais esta patranha a toda a pátria tuga, por atacado.

Com esta maravilhosa descoberta científica, provinda de tão ilustres cabecinhas, fica a humanidade em geral e a terra lusitana em particular municiada de uma nova, porém antiga modalidade de restauração (e afins): a hotelaria nómada. Lá voltaremos, assim sendo, aos bons velhos tempos do monta-tenda, desmonta-tenda; nada má, a ideia, realmente; uma cafetaria ambulante, devemos concordar, e quem diz cafetaria diz discoteca ou tasca, pois é mesmo muito bem pensado. Com suavíssimas e drapejantes paredes e tectos em pano ou em tela, de facto, muito menos gente - quase ninguém - se arriscará a dar cabeçadas inadvertidas ou a partir algum osso numa ombreira, por exemplo. Claro que não dará muito jeito para um gajo encostar o pé à parede, também por exemplo, porque não está lá parede nenhuma, mas a gente acaba por se habituar, é como tudo. Sim senhor. Nada mal lembrado. Eles, nesta, esmeraram-se.

Bem. Mas quem é que "eles" pensam que enganam? Com que espécie de totós é que "eles" pensam que estão a lidar? E, já agora, quem são "eles", afinal?

"Eles" são os mesmos que andaram décadas a promover o cigarro como um bem em si, como factor de prestígio e como sinal de distinção e de promoção social. "Eles" são aqueles que defendem hoje, com unhas e dentes, raivosos como mastins, o que ainda ontem lhes era completamente indiferente. "Eles" são os iluminados politicamente correctos, os que se julgam tocados pelo dever de obrigar todos os outros a não comer uma simples maçã, até a de Adão, se esse fruto não estiver devidamente calibrado, desinfectado, etiquetado e validado para consumo. "Eles" são os polícias de costumes modernaços, são aqueles tipinhos e tipinhas que, imbuídos de espírito de missão (ou o diabo que os carregue), sinceramente acreditam que o próprio Deus, em pessoa, lhes tocou no ombro e lhes disse, com voz cavernosa: "Ide, e chateai o vosso semelhante."

São apóstolos de um novo Deus, atlético e em forma, sorridente - já não de pura bondade mas à força de muitas idas ao dentista - e compassivo, por um lado, mas terrivelmente vingativo e implacável para com os desgraçados que se atreverem a penetrar no McDonald's, na Pizza Hut, na Ginjinha do Rossio ou em qualquer outro templo da dissolução e do vício. É um Deus da norma e do regulamento, extremamente higiénico, porque impoluto passou de moda, que exige dos seus fiéis uma confiança absolutamente cega em todos os Seus dogmas e ditames, já que em troca da fé, e também da cegueira, aos ditos fiéis está prometida e reservada uma estadia grátis no Paraíso para toda a eternidade; ou seja, os tipos estão convencidos de que, lá por não fumar e não comer nem beber porcarias, vão andar por aí aos caídos até que a vaca tussa, por assim dizer.

Pois a mim não convencem eles. Quero lá saber do Paraíso para alguma coisa. Não gramo férias nem à lei da bala e, além disso, acho chato como o raio essa coisa de andar por aí indefinidamente, com guizos nos pés e asinhas nas costas, a maçar toda a gente com uma musiquinha que tem tanto de celestial como de aborrecida. Chateia-me mortalmente fazer figura de parvo, em suma, e nem que me pagassem um balúrdio por mês eu iria aguentar essa chatice da vida eterna, ou lá o que é.

Mas enfim, deixemos esse tipo de trapalhadas, vida eterna, sítios pouco recomendáveis onde um gajo tem de ficar a ver passar os comboios, anjinhos com suas harpas, e assim, voltemos à terra e a coisas mais comezinhas e tangíveis.

Em suma, era isto. Para esses escuteiros da saúde compulsiva, para esses soldadinhos de chumbo do exército de salvação forçada, para toda essa gentinha que, certamente imbuída das melhores intenções, pretende conduzir-me de volta ao bom caminho ou fazer-me regressar ao redil da pureza e da magreza, do ar puro e da silhueta esbelta, duas palavrinhas: vão bardamerda. Quanto aos outros, os émulos legais, policiais e governamentais, mai-los seus acólitos industriais da cervejola marada, para esses não vão duas palavras mas apenas uma: também.




Ao abrigo da lei e aproveitando esta "ideia", aqui ficam algumas sugestões para donos de tascas, restaurantes, cafés, discotecas, bares, etc.
1. Parta as paredes do estabelecimento e substitua-as por lonas, mantendo os pilares e traves-mestras; logo a seguir, corra à Conservatória do Registo Predial e altere a inscrição na matriz para "esplanada".
2. Se os gajos da inspecção refilarem por causa de o tecto ser em telha, ponha uma cobertura de lona por cima da telha.
3. Se não quiser gramar com o esterco das obras, arranque apenas as portas e as janelas e monte a tenda pelo lado de dentro do estabelecimento; pode aproveitar os pilares da construção para pendurar a dita, poupando assim nos varões de prumo e nas estacas de fixação.
4. Caso o chateiem por afinal aquela merda ser uma casa com uma tenda lá dentro, responda com o ar mais sério deste mundo que não senhor, que é uma tenda com uma decoração exterior futurista (ou passadista, à escolha). E, principalmente, não se esqueça de referir que aquilo ali entra ar por todos os lados. E do bom.
5. Se "eles" (já sabe quem são) não forem na conversa, então lá terá de ser: arranje uma unidade de artilharia (ofereça-lhes umas bejecas à borla, a tropa é muito dada a ajudar o próximo) e eles que mandem o edifício pelos ares, com toda a limpeza; depois de remover algum resto de entulho que lá fique, monte a tenda no terreno livre e inaugure o seu novo estabelecimento, completamente remodelado e exclusivamente para fumadores.
6. No caso (improvável) de "eles" andarem a rondar-lhe a porta, não se acanhe: em vez de artilharia pesada, dê uma palavrinha a qualquer bacano da Força Aérea. Vai ver que eles não se importam nada de lhe despejar umas bombas de fragmentação mesmo em cheio na porcaria do boteco. Então sim, depois de tapar o buraco poderá finalmente montar a sua legalíssima, óptima, porreiraça tendinha de comes e bebes (ou afim).

Com um bocadinho de sorte, com esta solução, se calhar vai passar a pagar menos impostos (as tendas pagam impostos?) e ainda por cima os tipos da Super Bock terão o maior prazer em ganhar à concorrência mais um ponto de venda, por um lado, e pagar-lhe a si um dinheirão pela publicidade, por outro.

Uma mina.