terça-feira, 4 de março de 2008

Letras a 60 dias

Confesso que já por diversas vezes tive o indicador em cima do botão. Um click, a confirmaçãozita da ordem ("are you sure?") e pronto, bingo: acabou-se o Baforadas, foi à vida o sítio. Finito. Que se lixe.

Claro que me chateia atirar com este trabalho todo borda fora, principalmente com os mapas, e de mais a mais agora que acabo de (sim, pois, eu sei, finalmente) pôr on-line os ficheiros POI.

Afinal, para quê e para quem esta trabalheira toda? Valerá a pena? Qual é o troco ou será que existe alguma espécie de troco, ao menos?

Bem, assim uma resposta curta e grossa? Não. Não há. O que há, é o costume, o "bom" e velho costume português da carneirada, a técnica portuguesa da "Maria vai c'as outras"; ou seja, depois de uns quinze dias, talvez três semanas, no máximo, de estrebuche e de berreiro sortido, o português típico, neste caso o fumador, acabou por meter a viola no saco e por ir à vidinha, na maior das calmas, perfeitamente conformado com a sua sorte.

Ainda a "lei do tabaco" não fez três meses, ainda nem sequer lhe rebentaram os dentinhos de leite, e já o fumador português acha normalíssimo rapar um frio de rachar à porta do centro comercial mais fino ou da tasca mais rasca do país, enquanto despacha à pressa o seu cigarrito criminoso. A lavagem ao cérebro tem sido de tal forma eficaz (como se sabe, a lavagem é tanto mais eficaz quanto menor for a quantidade de matéria a lavar), que são os próprios fumadores que, pressurosamente, se aprestam a fornecer "opiniões" favoráveis às extraordinárias medidas de "protecção" da "saúde pública" que inventam as chamadas autoridades. Perdão. Retiro o termo "inventam"; não inventam nada; quem inventou esse tipo de tretas não foram as nossas autoridades; sequer a invenção é coisa recente; já nos idos de 30 do século passado este género de patranhas fez furor e contribuiu, pelos vistos decisivamente, para a ascensão do Partido (Nacional) Socialista ao Poder. Adiante.

Já se notam os típicos sintomas de lassidão, o deixandar da ordem, aquilo que nos distingue, enfim, no chamado concerto das nações. O Português adora, pelos vistos e como de novo se verifica, levar porrada nos cornos. É cá um palpite que eu tenho, apenas isso, mas "quer-me parecer" que, de resto, o Português típico não quer nem deseja outra coisa que não bordoada, cacete, chicote, rédea curta. Andar de mansinho e falar pianinho. Isto da beata murcha e apagada, não é caricatura - é paradigma. Refilou por desfastio, mas só um bocadinho e até levar a primeira cacetada; assim que a primeira lhe acertou, o portuguesito amochou, embatucou, calou. O portuguesito é assim mesmo. Um caladito. Um morcãozito que verga a mola ao primeiro sinal de borrasca. É o gajo que não quer chatices com ninguém, por definição, e muito menos com gente de farda ou de cifrões, o que vem a ser quase toda a gente.

Ao princípio, ainda havia umas lérias, umas discussões, umas tertúlias, e assim. Agora, trinta e tal dias depois, piu. Népia. O excelente fórum cá do sítio, por exemplo, essa linda ferramenta que tive a peregrina ideia de criar, ali está positivamente às moscas, a colher e a acolher anúncios pornográficos, muito útil para quem procura extensões penianas e coisas que tais, totalmente inútil para e sem nada a ver com o tabaco, os fumadores ou o fumo. Enfim, uma tristeza. Mais uns dias e, se não for o site inteiro, pelo menos o raio do fórum lá terá de ir de vela, visto não estar ali a fazer nada.

De todos os militantes da minha tertúlia particular, apenas resta um elemento que boicota sistematicamente os locais reservados a não fumadores. Adivinhem quem. Pois. Eu. Moi. Toda a gente, um por um, uma por uma, por isto e por aquilo, principalmente por aquilo, se foi rendendo à "inevitabilidade" das circunstâncias, ou lá o que é. Ah, sim? Pois eu cá não vou a restaurantes ou cafés onde não se possa fumar de todo. De todo.

Já que estamos em maré de balanço dos 60 dias, por assim dizer, referência a outra tanga também aqui antes mencionada, aquela dos clubes privados; até agora, pelo menos, não se viu nada. Pode ser que, um destes dias (ou meses, ou anos, ou décadas), apareça por aí qualquer coisinha, mas sinceramente não me parece; aquilo deve ter sido lá um arremedo daquela prestigiosa associação de comerciantes. É outra característica portuguesa: o entusiasmo inicial. "Vamos fazer isto e aquilo?", ocorre a alguém perguntar, amiúde; "'bora!", é a invariável, arrebatada, possessa, histérica, patriótica resposta dos circunstantes. Bom, mas a coisa dá trabalho... Ah... Ehrrr... Dá trabalh.. Aaahhh... E não é p'ra dar lucro... Eeeee... Não é p'ra dar lucr... Eeee... Ehrrr... Bem...

Pois. Nada feito. Esquece lá isso, meu. 'Bora lá fazer mazé mais uma esplanada c'um ganda som, pomos uma P.A. com 2000 por canal, 4 canais em torre, tázaver, meu, prontsh, aquilo assim é ao ar livre, tázaver, a gente cobre tudo com lonas (olha, inda por cima é à borliú, os gajos das marcas pagam as lonas e tudo), e pronto, ficamos c'uma discoteca baril, aquilo é ao ar livre, já tinha dito?, é fumadores, é não fumadores, até podemos servir uns comes, uns burriés, e assim, hã, mais fixe não podia, yá?

São uns cómicos, estes militantes da causa da saúde pública, estes adeptos da protecção contra o "fumo passivo". Alguns deles, note-se, muitos deles até, verdadeiros fumadores, não de tabaco, essa horrível substância, mas de outras, hoje em dia socialmente aceites e bem vistas. Veremos, já no próximo Verão, que se aproxima a passos largos, como irão conviver - certamente com alegria e em sã convivência - as duas comunidades de viciados, os toxicodependentes e os maníacos da saúde. Curioso, e sociologicamente porventura interessante, poderá vir a ser observar também a forma como interagem estes dois grupos connosco, fumadores; sinceramente, palpita-me que não vão gostar muito de nos ver ali, nas "suas" esplanadas. Palpita-me mais: palpita-me que vai haver porrada de criar bicho, no Verão, por essas esplanadas fora, no nosso querido Portugal. Não é por nada. É cá por coisas.

Por fim, e apenas para aproveitar a boleia do post, gostaria de deixar aqui uma pergunta que me ocorreu enquanto dormia. Diz-me a experiência que não se deve deixar engasgadas perguntas que nos ocorrem durante o sono. Não sei porquê, mas pronto. A pergunta é a seguinte: os bombeiros podem fumar em serviço?

E, já agora: é permitido fumar nos incêndios?

Responda quem não souber.

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