domingo, 1 de março de 2009

A mátria fumadora


A memória guarda-me Natália como senhora de telúricas paixões e um cigarro na boca ou na mão como adereço principal. E já que o Museu dos Baleeiros inaugurou no passado dia 27 a exposição intitulada “O Desenho na Colecção Privada de Natália Correia” parece-me a altura apropriada para aqui a trazer.


O espírito

Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanentemente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
já as folhas me ofuscam macilentas;

E vou com as andorinhas. Até quando?
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.

Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:

Andorinha indeme ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.

In "Sonetos Românticos", Lisboa: O Jornal, 1990

Caricatura de Vasco

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