O meu amigo Afonso é muito simpático, elegante, altivo sem ser arrogante. E esperto, principalmente esperto. Ah, claro, pois claro, faltou dizer, é lindíssimo: de uma beleza suave e mansa, tão mansa quanto o seu feitio e tão suave quanto a sua bonomia pachorrenta.
Sempre o achei calmo e bem disposto, e mesmo agora, ainda há pouco, o vi a rilhar placidamente um biscoito, sentado na relva, entre malmequeres.
A notícia caiu-me em cima à traição, como uma paulada: foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão. Deram-lhe quinze dias de vida, no máximo.
Lá em casa ninguém fuma, nunca ninguém fumou. E também, que diabo, o Afonso é um atleta, sempre foi, é capaz de andar quilómetros e quilómetros sem um queixume, sempre sorridente e satisfeito. Não é muito amigo de correr, até porque tem de levar consigo aquele enorme corpanzil, a reboque, mas não se furta a umas corridinhas rijas atrás de uma bola, por exemplo. Ninguém se conforma. Ninguém acredita. O velho está destruído, não come nem dorme, fala sozinho, torce as mãos num desespero, num desespero.
Hoje é o décimo sexto dia. Haja esperança.
O Afonso tem seis anos. É um Berner Sennenhund.
terça-feira, 1 de abril de 2008
O meu amigo Afonso
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