Equinócio
Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato
Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena
Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo
Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe
DO TEMPO AO CORAÇÃO, GUIMARÃES EDITORES, LISBOA, 1966, P. 31
David Mourão Ferreira
«David de Jesus Mourão-Ferreira nasceu em Lisboa em 1927 e faleceu, na mesma cidade, em 1996. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa onde se formou em Filologia Românica. Foi professor desta mesma Faculdade.
David Mourão-Ferreira distinguiu-se como poeta, professor e deixou uma obra considerável a nível da crítica literária.»
Fonte (copy/paste): A Poesia Eterna, por Marco Dias.
Imagem (autoria desconhecida) alojada no site Janela Urbana.
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