A memória guarda-me Natália como senhora de telúricas paixões e um cigarro na boca ou na mão como adereço principal. E já que o Museu dos Baleeiros inaugurou no passado dia 27 a exposição intitulada “O Desenho na Colecção Privada de Natália Correia” parece-me a altura apropriada para aqui a trazer.
O espírito
Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanentemente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
já as folhas me ofuscam macilentas;
E vou com as andorinhas. Até quando?
À vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.
Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:
Andorinha indeme ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.
In "Sonetos Românticos", Lisboa: O Jornal, 1990
Caricatura de Vasco
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