sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Último desejo

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fumar de luvas

Com os dias frios que correm, os fumadores obrigados a manter o hábito ao frio, à chuva e ao vento que raras foram as empresas que criaram espaços para o efeito já que a porta da rua é serventia mais barata, podem minimizar os prejuízos resultantes das mudanças de temperatura usando luvas. Luvas sem dedos.


E se os modelos acima porventura sugerirem uma atitude efeminada é sempre possível encontrar umas luvas desportivas para quaisquer mãos másculas.




[encontra-se aqui a forma de tricotar as luvas]

domingo, 25 de janeiro de 2009

Poemas e cigarros



Do tempo em que havia uma poética dos cigarros. Nesse tempo longínquo de há um ano e pouco.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A insustentável leveza do fumo


A sabedoria popular diz-nos que temos de ser uns para os outros e vem isto a propósito de um amigo meu não-fumador que desde a semana passada anda acabrunhado e cabisbaixo. Há um ano atrás rejubilou com a lei anti-tabaco certo de pertencer à maioria saudável deste país que apontava o egoísmo à minoria dos fumadores e justamente os punia socialmente quanto mais não fosse porque o irritava particularmente respirar o fumo deles quando degustava o seu bifinho com muito molhinho e batatas fritas e uma concha de arroz ou porque quando ia desopilar à noite ficava com o cheiro a fumo entranhado na roupa que tinha de ir logo tudo para lavar e até para a limpeza a seco.

Só que nas notícias teve conhecimento de um estudo de uma faculdade, com toda a seriedade que isso comporta que conclui que os gases lançados pelos veículos automóveis, compostos de substâncias todas elas cancerígenas, afectam toda a atmosfera, inclusive os locais onde o fumo não é permitido, e consequentemente, toda a população, incluindo as criancinhas que ainda aprendem a circular em ranchos ordenados a pé pelas ruas em saídas lúdicas dos infantários ou até em visitas de estudo. E ele que tem no seu carrinho o seu ai-jesus e já nem seria capaz de ir ao café da esquina sem ele, tal a relação íntima que ao longo dos anos se desenvolveu entre eles, começou a imaginar cenários em que catrefas de médicos o aconselham a seguir um programa de desintoxicação da viatura com muitas caminhadas a pé, em que as viaturas são impedidas de entrar nas cidades e os cidadãos são obrigados a circular em transportes públicos, em que se vê relegado para uma situação quase clandestina de ligar o seu automóvel e assentar as mãos no volante apenas na privacidade da garagem que felizmente no seu prédio ainda são individuais, tudo a bem da saúde de toda a população e sente-se um individuo a quem arrancaram metade de si.



Foto de Cristina Grosso, 2008

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O cantinho do castigo


Quando menina e moça ia à escola ainda era vulgar colocar de castigo os meninos que se portavam mal exilando-os a um canto da sala. E de acordo com relatos de minha mãe, ainda antes era comum acrescentar a prática de coroar o castigado com umas orelhas de burro confeccionadas em cartolina para provocar a troça dos seus pares.

Estas recordações surgem-me agora a propósito da Lei nº 37/2007, sorridente como um bebé por ter acabado de comemorar o seu primeiro ano de vida porque desde a sua entrada em vigor na vida dos portugueses obrigou as escolas públicas a escolher um caixote mais asadinho dos existentes na instituição e em alguns casos, até um vaso grandinho com uma planta, para não se entrar em mais despesas, e numa pedagogia de crime e castigo desterrou os professores fumadores para um cantinho do lado de fora do portão da escola.


Foto de René Maltête

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cidadão permitido


Quando acordo de manhã ao som das buzinadelas contínuas da fila interminável de viaturas, nesse barulhento ritual mágico-religioso de dissipar o trânsito que há anos se revela ineficaz, fico com ganas de lhes tirar o pio, de lhes extirpar esse órgão sonoro do carro já que ninguém fiscaliza o ruído.

Esta é uma questão que não está no horizonte da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo que ontem anunciou que quer extirpar o fumo em todos os estabelecimentos de restauração, incluindo bares e discotecas. Defende mesmo que a lei tem de ser alterada para passar a contemplar tão completa proibição. Que não se descanse e durma por causa do ruído dos bares e discotecas será certamente coisa de pequena monta para estes cruzados movidos pela defesa do direito exclusivo e inalienável dos não-fumadores a ocuparem todos os territórios.

E desta vez o director-geral de Saúde explicou prontamente que a lei em vigor só pode ser revista após 3 anos e que de qualquer modo, "Não há condições para se alterar a lei portuguesa porque ela fundamenta-se nos princípios constitucionais que estão em vigor no nosso país, onde os excessos não são permitidos". Afinal, ao abrigo da Constituição, os fumadores são cidadãos como os outros.


Imagens de Yatahonga.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

SG VIP

PUBLICO.PT
PÚBLICO: Edição Impressa, Última Hora
8 de Janeiro de 2008 - 09h31


Mau e caro mas nosso
Miguel Esteves Cardoso

Durante décadas, quando ser consumidor era praticamente o mesmo que ser comunista, guiávamos-nos todos por uma tabela que por cá nunca falhava: estrangeiro=melhor=mais caro.

Quem fosse pobre ou tivesse um carinho fascista pela mediocridade, comprava nacional. Ou, pela calada, pedia a um fascista amigo para trazer do estrangeiro, onde era sempre mais barato.

Hoje, esta regra está sob ataque. Nas frutarias e sapatarias; nos Aldis e Lídeis; o nacional é que é bom; o nacional é que é mais caro; o nacional é que é o único que se "pode levar à vontade."

Todo um sistema de valores se inverteu. A nossa moeda já vale tanto como uma libra esterlina; os dólares, tal como a libra livreira, começam a tornar-se uma memória distante, do Cinema. Mas só ontem é que a velha hierarquia veio abaixo. Lia-se na página 30 do PÚBLICO: o SG Filtro vai passar a ser mais caro do que o Marlboro. Sim, o baixote e ordinareco SG Filtro de Xabregas, que eu comprava quando não tinha dinheiro para o Marlboro comprido e show off da Virgínia, dos filmes e da Fórmula 1, vai ser o cigarro de quem quer fazer-se passar por cosmopolita e milionário.

Já estou a ver os anúncios, caso os permitissem: "Sim, sou um oligarca russo - fumo SG Filtro à fartazana!". Ou: "Não é por estar desempregado que dispenso o cigarrinho: vai sempre um Márlubóro enquanto estou na bicha para a sopa; ai nanas!".

Espero bem que os fascistas estejam satisfeitos.


© Copyright PÚBLICO Comunicação Social SA

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O discreto pudor do fumo


Sophia fumava. Pouco. E raramente foi fotografada com um cigarro na mão. Já Mário Cesariny era um fumador inveterado e por pouco tempo que se estivesse a seu lado era inevitável vê-lo acender um cigarro, hábito de que resultaram inúmeras fotografias suas, mesmo de pose e de estúdio que memorizam a sua imagem a fumar.

No entanto, nos últimos anos um discreto pudor do fumo tomou conta das contracapas e badanas dos livros e, até dos sites, cerceando o cigarro das imagens dos autores e custa a acreditar que resulte meramente de uma bitola gráfica aparentando antes uma estética de omissão dessa característica do autor, talvez considerada pouco saudável para a sua venda a granel. Quase como se por imposição de uma moda capilar de testa descoberta se apagasse agora a franja das fotografias de Beatriz Costa.


Imagens de JornalismoPortoNet e Assírio & Alvim.