segunda-feira, 31 de março de 2008

E os remediados também

«OS POBRES ESTÃO PROIBIDOS


O mundo moderno orgulha-se da sensibilidade social e preocupação com os necessitados. O Governo faz gala nisso. O nosso tempo acaba de conseguir uma grande vitória na vida dos pobres. Não acabou com a miséria. Limitou-se a proibi-la. É que, sabem, a pobreza viola os direitos do consumidor e as regras higiénicas da produção.

A nova polícia encarregada de vigiar a interdição da indigência é a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, ASAE. Segundo as regras por que se rege, grande parte dos pequenos negócios, empresas modestas e produtos tradicionais, bem como as vendas, bens e esmolas de que vivem as pessoas carenciadas ficam banidas. É pena, mas não há lugar para pobres na sociedade asséptica que pretendemos.

É evidente que as exigências impostas nos regulamentos e fiscalizadas nas inspecções impossibilitam a sobrevivência das empresas menores. Obras necessárias, aparelhos impostos, dimensões requeridas são inacessíveis, excepto às multinacionais, grandes cadeias e empresas ricas, que a lei favorece. Os pequenos ficam rejeitados. Pode dizer-se que a actuação da ASAE constitui o maior ataque aos pobres desde o fim da escravatura.

Alguns argumentam que não é esse o espírito da lei nem o sentido da acção da Autoridade. Mas as notícias recentes desmentem essa interpretação favorável. O número de velhas tradições alimentares agredidas é tal que deixou de ser novidade. A 14 de Janeiro passado, a ASAE visitou o Centro de Dia de Póvoa da Atalaia, Fundão. Aí impôs obras caras, destruiu a marmelada que tinha sido oferecida pelos vizinhos e levou frangos e pastéis dados como esmola (Lusa, 06.03.2008). O jejum a que a Autoridade condenou aqueles pobres velhos foi feito em defesa da sua higiene alimentar. Parece que ter fome não é contra os regulamentos do consumidor.

Para juntar insulto ao agravo, recentemente a Autoridade lançou a sua "maior operação de sempre" com prisões e apreensões para "celebrar o dia do consumidor" (Lusa, 14.03.2008). Como os selvagens, a ASAE celebra contando escalpes. Entretanto os verdadeiros criminosos continuam a operar e a criar problemas sanitários e ambientais. O mais trágico nesta tolice monstruosa é que, enquanto anda a perder tempo a perseguir os pobres, a ASAE descura a sua verdadeira missão, que é mesmo muito importante.

Será que alguém pode ser tão estúpido, insensível e maldoso? Esta hipótese nunca deve ser descartada, sobretudo nos tempos que correm. Mas a explicação é capaz de ser outra. Só um iluminado pode fazer erros tão crassos. O que realmente se passa é que a ASAE não se considera uma polícia nem se vê a perseguir malfeitores. A sua missão suprema é educar o povo para a segurança alimentar. A finalidade é mudar o mundo. O seu objecto são, não os criminosos, mas toda a população. O que temos aqui é um conjunto de fanáticos com meios para impor às gentes ignaras o que julga ser o seu verdadeiro bem. Desta atitude saíram as maiores catástrofes da história.

Mas a culpa última não é da ASAE. Ela é responsável pela arrogância, tolice e insensibilidade com que aplica a lei. Mas a origem está nas autoridades portuguesas e europeias que criaram um tal emaranhado de ordens, regras e regulamentos que impedem a vida comum. A incongruência e irresponsabilidade da legislação, nas mãos de fanáticos, criam inevitáveis desgraças. A lei anula-se a si mesma. Ao promover o consumidor esquece o produtor, ao favorecer o investimento ignora o ambiente, ao cuidar do mercado desequilibra a saúde. Quem queira cumprir à risca o estipulado não sobrevive. Nem sequer quem o impõe: "Sede da ASAE [no Porto] não cumpre regras impostas pela ASAE" (JN, 17 de Fevereiro).

Numa sociedade democrática, a responsabilidade última está nos eleitores. Os séculos futuros vão rir de um tempo tão ingénuo que quis leis e regulamentos para todo e qualquer aspecto da vida. Esta obsessão legalista, mecanicista, materialista, se nos traz ganhos importantes, acaba por asfixiar a realidade. Como sempre, os pobres são os primeiros a sofrer.
»


João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

sábado, 29 de março de 2008

Prometido é devido



Cavaco Luke, o glutão que emborca mais depressa do que a própria sombra.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Mas que bem se está no campo



Farto até aos cabelos da "notoriedade" marginal do Apdeites, isto ele não há nada como ter assim um sítio quase totalmente deserto onde posso fazer e dizer aquilo que me der na real gana. Já faltou mais para absolutamente ninguém aqui pôr os "pés". Mas que bem. Haja sossego.

Este Baforadas é a minha casa de campo, por assim dizer. Um ermo isolado onde não há nem cães a ladrar nem idiotas outro tanto e onde posso esticar as pernas e respirar ar puro, aaaahhh, que beleza. Aqui, bem posso apascentar as minhas vaquinhas virtuais e regar as couvinhas idem sem ter de me chatear com a vizinhança. Isto é realmente um descanso. Excelente para a saúde, principalmente a mental, um sítio revigorante onde não é preciso "dar uma" de serviço público e onde não vêm felizmente parar os palerminhas, os trogloditas, os cretinos que me julgam seu criado, no mínimo, ou funcionário público - às ordens, sem horário nem ordenado - no máximo.

A grafonola que está ali em cima é mais um móvel que para aqui trago. É uma pequena parte da mudança. Um simbolozito. Assim como quem diz: mas que bem se está no campo.

E eu que dizia, há poucos dias, que havia de fechar aqui a "cottage". Qual quê! Vou mas é pôr mais umas telhas e dar uma caiadela nas paredes. Mas enfim, haja calma, isso há-de ser depois de ir ali dar milho aos pombos, enquanto oiço outra vez a Tocata e Fuga, do velho João Sebastião. É isso. Com um belo de um cigarrinho por companhia, silenciosa e cúmplice. O que mais se pode querer da vida?

sábado, 22 de março de 2008

Na Austrália


http://www.youtube.com/watch?v=bLSb0MQ4I00

História do fumo III - Arqueologia da fumaça - V

Memória de ex-fumador

Tendo nascido em Cacilhas, a terra dos burros, neto de tasqueiro (um taberneiro) do "cais", as minhas companhias (o pessoal do bando) eram a "malta da praia"; antigamente, a educação mandava que, quando se entrava no barco ou na camioneta, se deitasse a chucha fora (o cigarro) mais ou menos inteira (e sem filtro). Eu e a malta, quando não íamos à chincha (fruta), ou à gandaia, no transbordo do peixe, apanhávamos as beatas, havia "a dar c'um pau", e comprávamos um livricho de mortalhas, os lençóis onde enrolávamos os nossos cigarritos (as grilas) que íamos fumar para as grutas das lobas no fim do Ginjal (onde hoje está o elevador, onde íamos ao banho, na praia das lavadeiras); ou, mais perto, num vão de escada, mais perigoso por causa da guarda fiscal ou da polícia (esta instalou-se em 1936, ao pé da cocheira do Narciso, tinha eu seis anos, e um polícia "amandou-me" com o chanfalho às costas, sem eu fazer nada de mal, senão jogar ao "toca las canas".
Abandonei, porque a nova "fessora" nem admitia o cheiro do tabaco; o grupo desfez-se, não dava para andar às beatas. Fumar papel de caderno não agradava, nem as barbas de milho que apanhávamos na quinta do Serra.
E assim deixei de fumar aos dez anos.

Jorge Fernandes
Lisboa
Diário de Notícias, 21.03.08, "Cartas".

terça-feira, 18 de março de 2008

O Porto (dos fumadores) visto do ar


http://youtube.com/watch?v=kVjwK3s0qgE

Esta coisa do Microsoft Virtual Earth é simplesmente genial. Depois do passeio turístico por Lisboa, via aérea, e como já tinha este ficheiro pronto, resolvi aproveitar para mostrar aos fumadores (e aos não fumadores) do Porto e arredores como é a sua cidade vista por um pássaro (ou por quem vai à boleia de um helicóptero, no caso).

O trajecto segue o mapa dos restaurantes para fumadores, é claro, e - curiosamente - não se vê fumarada nenhuma no ar.

A música, para condizer, é o "Porto Sentido", de Rui Veloso.

sábado, 15 de março de 2008

Auto-retrato: Mengele#links

«Depois de ter começado a fumar em Janeiro, acho que vou ali fazer um piercing e já venho.»
[Sérgio Lavos]


Auto-retrato: Mengele#links

segunda-feira, 10 de março de 2008

Um guia de restaurantes bem feito, ó

Não sei quem o faz ou fez e, confesso, descobri-o por mero acaso, via motor de busca. Parece-me que está actualizado mas, seja como for, é um dos melhores guias de restaurantes da zona de Lisboa que tenho visto. E dos restaurantes que lá estão, que nem são muitos, bastantes são para fumadores.

Aquilo deve ser algum aluno da Universidade Lusíada, a julgar pela linguagem juvenil e despreocupada, mas também poderá ser de algum professor ainda não muito entradote. Enfim, não interessa. Pelo menos até ver, este excelente guia está neste endereço e contém indicações tão preciosas como aquelas que a seguir se respingam, apenas para abrir o apetite.

Zé Barranquenho
Amadora
Av. Eduardo Jorge, 8D-2700 Amadora
(junto ao Metro da Falagueira)
934 913 018
15€
- Comidinha Alentejana muito bem feita. Tasco! É PRECISO MARCAR.
O Zé às vezes passa-se dos carretos...mas a filha atenua o estrago!

Muxaxo
Cascais Guincho
- Excelente vista. Paga-se por ela...e pelo pouco que se come.
Bom para levar a amázia!

Kais - Adega
Alcântara
R.Cintura Porto de Lisboa
25€
- Num armazém recuperado em cima restaurante e em baixo na Adega, come-se à javardona.
Rodízio de pratos tradicionais 30/40. Mesas compridas e um bocado barulhento...


Cumprimentos e agradecimentos ao ilustre e desconhecido autor. Fiquei cliente do guia.

Arquive-se I



«As discotecas consideradas como "estabelecimentos de bebidas destinados a dança" com menos de 100 metros quadrados podem permitir fumar em todo o espaço, desde que cumpram os requisitos de sinalização, ventilação e extracção de fumo. Esta é a definição que consta de um acordo assinado na semana passada entre a Direcção-Geral de Saúde (DGS) e a Associação de Discotecas Nacional (ADN).

"As discotecas têm vários tipos de licenciamento e, no momento de aplicar a lei do tabaco, criou-se uma grande confusão. Por isso, pedimos à DGS para entrarmos em diálogo e chegarmos a um acordo quanto à interpretação", explica Francisco Tadeu, director executivo da ADN. "O que fizemos foi clarificar a lei, para que não restem dúvidas para os nossos associados e para evitar problemas em termos de vistorias e fiscalizações."

Assim, segundo o documento, a lei do tabaco é obrigatoriamente aplicada tendo por base a definição de discotecas como "locais de trabalho", "recintos de diversão e recintos destinados a espectáculos de natureza não artística" e "estabelecimentos de bebidas com espaços destinados a dança".

Quando consideradas "estabelecimentos de bebidas com espaços destinados a dança", com uma dimensão inferior a 100 metros quadrados, as discotecas podem optar por permitir ou não o fumo, desde que cumpram as regras quanto à qualidade do ar - ventilação e extracção do fumo - e tenham a sinalização adequada.

No caso de serem consideradas "estabelecimentos de bebidas com espaços destinados a dança" tendo mais de 100 metros e quando consideradas como "recintos de diversão e recintos destinados a espectáculos de natureza artística", as discotecas podem criar zonas de fumadores, com uma dimensão que será de 30% a 40% dos espaço total, consoante tenham ou não separação física.

As zonas para fumadores terão de estar identificadas através de dísticos, separadas fisicamente ou com um dispositivo de ventilação, desde que autónomo - para evitar que o fumo se espalhe - e uma ventilação para o exterior.

De acordo com a Lusa, o documento refere ainda que a melhor opção para espaços maiores é a separação física, uma vez que "quanto maior o espaço, mais difícil será a possibilidade de criar uma área para fumadores sem separação física cumprindo os requisitos da ventilação e extracção."

"Trata-se de uma clarificação. Assim, os nossos associados sabem como interpretar a lei e como terão de agir", explica Francisco Tadeu, ressalvando, no entanto, que entre os cerca de mil espaços de diversão representados pela ADN não tem havido grandes problemas. "Estamos a cumprir a lei. Os nossos associado estão a aplicar as normas em vigor. É uma pena termos que dividir as pessoas que fumam e não fumam, porque são espaços de diversão, mas temos que o fazer."

Isto não significa que a associação esteja contente com a lei do tabaco. "Esta é a lei que temos e enquanto estiver em vigor temos que a cumprir, daí a necessidade de esclarecer a sua interpretação. Mas não desistimos de lutar pela mudança na lei", afirma Francisco Tadeu.

Neste momento, a associação encontra-se a recolher estudos de forma a tentar provar que a lei do tabaco contraria a lei da qualidade do ar. "Para pedir uma mudança da lei à Assembleia da República temos que ter uma fundamentação", explica Francisco Tadeu, sem perder a esperança
.|»

Diário de Notícias, 10.03.08


Esta colagem integral, de texto e imagem, tem todo o interesse histórico e justifica-se pelos desenvolvimentos que se adivinham num futuro não muito distante. Veremos quanto tempo dura esta "modalidade" abaixo dos 100 metros quadrados ou quando e quanto variará a percentagem de espaço para fumadores em função do total. Isto é realmente muito giro, porque muda semana sim semana não. Siga a dança.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Museu do Fumador (França)

Le Musée du Fumeur



Le musée du Fumeur
7 rue Pache
75011 Paris
(Métro Voltaire, sortie Roquette)
Tél. (+33) 01 46 59 05 51
Tél. (+33) 01 43 71 95 51
Fax (+33) 01 43 73 24 35
• Ouvert tous les jours (sauf lundi) de 14h à 19h
• Entrée : 4 euros / T.R. 3 euros
• Entrée libre à la librairie-boutique
• Fermé le 25 décembre, le 1er janvier et le 1er mai
• Fermé la 1re semaine de janvier et du 30 juillet au 20 août inclus


Exibir mapa ampliado

Não se iludam, camaradinhas. Aposto que nem neste museu é permitido fumar. Mas vá lá. A gente respira fundo e aguenta uma meia horita sem respirar, lá dentro.

Créditos pela boa nova ao excelente blog do companheiro pintor Fernando Campos, do blog Sítio dos Desenhos.

"O Sítio do Fumador"

click para ampliar

Fernando Campos

quinta-feira, 6 de março de 2008

História do fumo II - Arqueologia da fumaça - IV


link

Companheiros, vocês ponham os olhinhos nisto. Um anúncio da Philip Morris com mais de oito minutos, oito!

Nele se diz, entre outras pérolas com mais de cinquenta e tal anos, que aquela marca é excelente para a saúde em geral e para o catarro em particular! Que não dá ressaca! Que abre o apetite (e fecha-o, se um gajo for gordo). Que um porradal de médicos e cientistas estudaram, analisaram, espiolharam o tabaquito lá da fábrica e acharam aquela merda espantosa, excelente, um primor, mesmo a calhar para casos de tuberculose, rouquidão, calos, piorreia, queda do cabelo, mamas descaídas, hemorroidal, inveja e mau-olhado.

Pessoal, é de ver. Já está na Galeria, pois claro. Porra. Que documento. Como dizia o outro: 'tou marabilhado.

terça-feira, 4 de março de 2008

Arqueologia da fumaça - III



Equinócio

Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato

Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gin enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena

Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo


Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe


DO TEMPO AO CORAÇÃO, GUIMARÃES EDITORES, LISBOA, 1966, P. 31
David Mourão Ferreira

«David de Jesus Mourão-Ferreira nasceu em Lisboa em 1927 e faleceu, na mesma cidade, em 1996. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa onde se formou em Filologia Românica. Foi professor desta mesma Faculdade.

David Mourão-Ferreira distinguiu-se como poeta, professor e deixou uma obra considerável a nível da crítica literária.»



Fonte (copy/paste): A Poesia Eterna, por Marco Dias.

Imagem (autoria desconhecida) alojada no site Janela Urbana.

Descubra as diferenças


Letras a 60 dias

Confesso que já por diversas vezes tive o indicador em cima do botão. Um click, a confirmaçãozita da ordem ("are you sure?") e pronto, bingo: acabou-se o Baforadas, foi à vida o sítio. Finito. Que se lixe.

Claro que me chateia atirar com este trabalho todo borda fora, principalmente com os mapas, e de mais a mais agora que acabo de (sim, pois, eu sei, finalmente) pôr on-line os ficheiros POI.

Afinal, para quê e para quem esta trabalheira toda? Valerá a pena? Qual é o troco ou será que existe alguma espécie de troco, ao menos?

Bem, assim uma resposta curta e grossa? Não. Não há. O que há, é o costume, o "bom" e velho costume português da carneirada, a técnica portuguesa da "Maria vai c'as outras"; ou seja, depois de uns quinze dias, talvez três semanas, no máximo, de estrebuche e de berreiro sortido, o português típico, neste caso o fumador, acabou por meter a viola no saco e por ir à vidinha, na maior das calmas, perfeitamente conformado com a sua sorte.

Ainda a "lei do tabaco" não fez três meses, ainda nem sequer lhe rebentaram os dentinhos de leite, e já o fumador português acha normalíssimo rapar um frio de rachar à porta do centro comercial mais fino ou da tasca mais rasca do país, enquanto despacha à pressa o seu cigarrito criminoso. A lavagem ao cérebro tem sido de tal forma eficaz (como se sabe, a lavagem é tanto mais eficaz quanto menor for a quantidade de matéria a lavar), que são os próprios fumadores que, pressurosamente, se aprestam a fornecer "opiniões" favoráveis às extraordinárias medidas de "protecção" da "saúde pública" que inventam as chamadas autoridades. Perdão. Retiro o termo "inventam"; não inventam nada; quem inventou esse tipo de tretas não foram as nossas autoridades; sequer a invenção é coisa recente; já nos idos de 30 do século passado este género de patranhas fez furor e contribuiu, pelos vistos decisivamente, para a ascensão do Partido (Nacional) Socialista ao Poder. Adiante.

Já se notam os típicos sintomas de lassidão, o deixandar da ordem, aquilo que nos distingue, enfim, no chamado concerto das nações. O Português adora, pelos vistos e como de novo se verifica, levar porrada nos cornos. É cá um palpite que eu tenho, apenas isso, mas "quer-me parecer" que, de resto, o Português típico não quer nem deseja outra coisa que não bordoada, cacete, chicote, rédea curta. Andar de mansinho e falar pianinho. Isto da beata murcha e apagada, não é caricatura - é paradigma. Refilou por desfastio, mas só um bocadinho e até levar a primeira cacetada; assim que a primeira lhe acertou, o portuguesito amochou, embatucou, calou. O portuguesito é assim mesmo. Um caladito. Um morcãozito que verga a mola ao primeiro sinal de borrasca. É o gajo que não quer chatices com ninguém, por definição, e muito menos com gente de farda ou de cifrões, o que vem a ser quase toda a gente.

Ao princípio, ainda havia umas lérias, umas discussões, umas tertúlias, e assim. Agora, trinta e tal dias depois, piu. Népia. O excelente fórum cá do sítio, por exemplo, essa linda ferramenta que tive a peregrina ideia de criar, ali está positivamente às moscas, a colher e a acolher anúncios pornográficos, muito útil para quem procura extensões penianas e coisas que tais, totalmente inútil para e sem nada a ver com o tabaco, os fumadores ou o fumo. Enfim, uma tristeza. Mais uns dias e, se não for o site inteiro, pelo menos o raio do fórum lá terá de ir de vela, visto não estar ali a fazer nada.

De todos os militantes da minha tertúlia particular, apenas resta um elemento que boicota sistematicamente os locais reservados a não fumadores. Adivinhem quem. Pois. Eu. Moi. Toda a gente, um por um, uma por uma, por isto e por aquilo, principalmente por aquilo, se foi rendendo à "inevitabilidade" das circunstâncias, ou lá o que é. Ah, sim? Pois eu cá não vou a restaurantes ou cafés onde não se possa fumar de todo. De todo.

Já que estamos em maré de balanço dos 60 dias, por assim dizer, referência a outra tanga também aqui antes mencionada, aquela dos clubes privados; até agora, pelo menos, não se viu nada. Pode ser que, um destes dias (ou meses, ou anos, ou décadas), apareça por aí qualquer coisinha, mas sinceramente não me parece; aquilo deve ter sido lá um arremedo daquela prestigiosa associação de comerciantes. É outra característica portuguesa: o entusiasmo inicial. "Vamos fazer isto e aquilo?", ocorre a alguém perguntar, amiúde; "'bora!", é a invariável, arrebatada, possessa, histérica, patriótica resposta dos circunstantes. Bom, mas a coisa dá trabalho... Ah... Ehrrr... Dá trabalh.. Aaahhh... E não é p'ra dar lucro... Eeeee... Não é p'ra dar lucr... Eeee... Ehrrr... Bem...

Pois. Nada feito. Esquece lá isso, meu. 'Bora lá fazer mazé mais uma esplanada c'um ganda som, pomos uma P.A. com 2000 por canal, 4 canais em torre, tázaver, meu, prontsh, aquilo assim é ao ar livre, tázaver, a gente cobre tudo com lonas (olha, inda por cima é à borliú, os gajos das marcas pagam as lonas e tudo), e pronto, ficamos c'uma discoteca baril, aquilo é ao ar livre, já tinha dito?, é fumadores, é não fumadores, até podemos servir uns comes, uns burriés, e assim, hã, mais fixe não podia, yá?

São uns cómicos, estes militantes da causa da saúde pública, estes adeptos da protecção contra o "fumo passivo". Alguns deles, note-se, muitos deles até, verdadeiros fumadores, não de tabaco, essa horrível substância, mas de outras, hoje em dia socialmente aceites e bem vistas. Veremos, já no próximo Verão, que se aproxima a passos largos, como irão conviver - certamente com alegria e em sã convivência - as duas comunidades de viciados, os toxicodependentes e os maníacos da saúde. Curioso, e sociologicamente porventura interessante, poderá vir a ser observar também a forma como interagem estes dois grupos connosco, fumadores; sinceramente, palpita-me que não vão gostar muito de nos ver ali, nas "suas" esplanadas. Palpita-me mais: palpita-me que vai haver porrada de criar bicho, no Verão, por essas esplanadas fora, no nosso querido Portugal. Não é por nada. É cá por coisas.

Por fim, e apenas para aproveitar a boleia do post, gostaria de deixar aqui uma pergunta que me ocorreu enquanto dormia. Diz-me a experiência que não se deve deixar engasgadas perguntas que nos ocorrem durante o sono. Não sei porquê, mas pronto. A pergunta é a seguinte: os bombeiros podem fumar em serviço?

E, já agora: é permitido fumar nos incêndios?

Responda quem não souber.

domingo, 2 de março de 2008

A beleza emudece





Imagem de Sofia (em Imeem)

Galeria de som, vídeo e imagem (em construção).

O Guerra já era. Agora é a guerra

click para ampliar

Lei do Tabaco: Bar do Porto fecha por falta de clientes
Porto, 01 Mar (Lusa) - O Bar Guerra, no Porto, vai deixar de funcionar a partir de domingo, por falta de clientes desde que entrou em vigor a Lei do Tabaco, em 01 de Janeiro, disse à agência Lusa fonte empresarial.
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"Desde o princípio de Janeiro que começou logo a ter quebras, porque era uma clientela fumadora", disse à Lusa o presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP), António Fonseca.
O empresário referiu que o Bar Guerra, situado no início da Rua do Heroísmo, "não tem espaço ao ar livre", pelo que não teve alternativa que não fosse impedir os clientes de fumar.
"É a primeira vítima da Lei do Tabaco e poderá ser o princípio de uma bola de neve. Em 2004, na Irlanda, fecharam 600 bares" por causa de uma lei semelhante, salientou.
António Fonseca disse que o Bar Guerra, "um bar típico de rock dos anos 70, com uma decoração de baterias e guitarras", vai abrir hoje pela última vez, permitindo a todos os clientes que fumem à vontade.
Para António Fonseca, "as ameaças da ASAE e a ambiguidade da Lei do Tabaco" estão a causar muita perturbação no sector,
O presidente da ABZHP criticou o director-geral da Saúde, Francisco George, por ainda não ter respondido a dois requerimentos sobre a aplicação da Lei do Tabaco aos clubes reservados a sócios que tenham zona de bar.
FZ.
Lusa/Fim
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.2008-03-01 22:25:01

Notícia RTP